22 de jan. de 2009

O Parto

> Casamos novos. Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. > > Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê. > > Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambazinha por um preço módico. > > Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento. > > Invadi a sala de parto com a câmera ao ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho. Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir ao filme. > > Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa eram os meus orgulhos. > >Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de > choro. > > Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro. As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato. > > O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho. > > Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu urologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata. > >Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando: > > -Ah! Doutoor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor! > > Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar. O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz. > >A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema: > > -Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora... > > Alcancei um sapato no chão e joguei na maldita. > > Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu pago o reembolso. > > Luiz Fernando Veríssimo

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