7 de set. de 2008

Saudade

Dúzias de pregos soltos, três alfinetes de fralda pra servir de desmazelo. Um rolo de fita isolante, que nem teve serventia. seis retratos 3x4, fora o do relicário de prata, que não é meu, com mentira escrita no verso. Em prosa. Desarrumadas lembranças, uma carta de amor, três de baralho: um rei de pau, uma dama de quatro, um ás de ouro puro erro de cartomante. Uma chave de fenda, uma calcinha de renda, uma clave de lua, pena de passarinho, asa de borboleta, raiozinho de sol. Minhas caixinhas de música, conchinhas, tantos mares, minha coleção de pedras, meu colar de pérolas e aquele salto alto, que nunca foi lá. Dois espelhos, sete chaves e nenhuma abre a algema. Uma faca desafiada por um pulso sem coragem, uma tesoura sem ponta, assustando velhos papéis. Um missal de madrepérola, um santinho de São Jorge assassinando o dragão com um canivete suíço. Três segredos tão sufocados no amarrado da fita amarela. Um soluço, a última ilusão. Todos os versos que teimei, todas as bugigangas que juntei, todos os parafusos que perdi e quase esquecido, de lado, escondido entre rimas rasgadas, um martelo torto e sem cabo de tanto bater na saudade

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