13 de abr. de 2009

As dores e o tempo

Experimente fazer um corte no seu próprio braço. Nada de mais, algo superficial. Vai doer, ficar vermelho, sangrar, arder na hora do banho. Provavelmente você tenha que colocar um band-aid. Vai incomodar. Mas no dia seguinte o corte terá uma fina casquinha. Mais dois ou três dias a casca ficará mais forte e a pele por baixo vai estar quase sarada. Em uma semana a casca já se foi e seu braço estará lá, com uma leve marca branca, um fio que irá desaparecer com o tempo. Mas você olha e tem certeza de que o machucado fechou e não abre mais, a não ser que você se corte novamente. A cicatriz não incomoda, a pele está praticamente perfeita, tudo certo. Experimente um corte na alma. Uma dor qualquer – uma decepção, uma traição, uma perda. Você consegue saber quando a cicatriz fecha de vez? Prefiro mil cortes no braço a uma dor na alma. Não vejo o quanto ela sangra, acho que já estou curada e de repente, sem eu saber por que, a dor volta e sangra tudo novamente. O tempo cura tudo? Os cortes no meu braço, sim, na minha alma, desconfio que não. Ou pelo menos esse tempo é bem maior do que eu pensava. E também me engana, pois vejo ele passar e não vejo minha alma sarar. O problema está em mim ou no tempo? Ou nos cortes que tenho? Se souber o nome do remédio pra isso, me conte. Tempo eu já sei que não é.

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